quinta-feira, 2 de abril de 2009

banco alto e uma luneta - capítulo VIII – vai que eu te salvo

o que quer que eu faça é nele que eu penso... Desde o episódio de não-Ademar, que não aplaco minha enorme vontade de beijar boca de homem. Observo do alto de meu banco, através de minha luneta – feliz da vida com meu novo uniforme. Tudo parado aqui por fora e um rebuliço enorme aqui por dentro...
Para variar, minha única possibilidade a curtíssimo prazo de beijar na boca é salvando alguém.
... Vejo através de minha luneta que só há dois espécimes masculinos no momento por aqui. Sr Irene e um homem na casa dos cinqüenta, de óculos, calças jeans e camiseta. Sr Irene já teve sua cota de salvamento, me resta o outro.
Para salvá-lo de afogamento preciso, ao menos, que ele esteja dentro d’água, mas o livro que ele lê compulsivamente parece muito mais interessante que água.
Me aproximo assim, casualmente. Estou há um metro e meio e ele nem me percebe.
Resolvo puxar conversa. O que está lendo? O homem levanta os olhos do livro e responde: No Caminho de Swann, já leu? Ao todo li uns três livros na minha vida, mesmo assim por que fui obrigada na escola. Já sim... é do mesmo autor de O Alquimista, não é? Chutei pessimamente mal. Não, eu estou lendo Proust, ele responde com cara de enjôo. Caramba, este deve ser um desses autores novos de quem nunca ouviu falar...
Tudo bem, o início de nossa conversa foi bola fora, admito. Mesmo assim continuo, já que meu objetivo é fazer com que ele largue o livro e entre na piscina.
O sol está lindo hoje, não vai dar um mergulhinho? Ele me responde negativamente balançando a cabeça. Continuo querendo ser engraçadinha: Tá de calças jeans por quê? Escondendo micose?... Desta vez, nem obtenho resposta.
Olha, a água está deliciosa, na temperatura ideal para umas braçadas... O homem fecha o livro e olha para o chão. Não sei nadar, ele responde. Fico uns bons vinte minutos convencendo-o. Digo que isso não é empecilho para se deixar de curtir um bom banho, já que há a piscina rasinha para bebês... que seria o mesmo que se afogar numa bacia... e que se alguma coisa fugir ao controle, estou aqui... A verdade é que usei 75% de toda minha criatividade tentando convencê-lo. Só depois de oferecer-lhe boinhas de braço, esquecidas nos achados e perdidos, é que ele resolve entrar na piscina rasa.
Lá está ele, feliz, mas estático. Seu medo é tanto que parece não mover um músculo. Assim fica realmente difícil iniciar um salvamento, se nem o queixo ele emerge.
Tento animá-lo dançando macarena na borda da piscina, suas sobrancelhas até arqueiam, mas ainda não tenho subsídios suficientes para um salvamento.
Lembro de não-Ademar. Uma fogueira reacende dentro de meu peito e preciso, desesperadamente, iniciar um boca a boca. Olho para os lados, não vejo ninguém. Só o Sr Irene deitado numa espreguiçadeira alisando a própria barriga e brincando com seu umbigo cheio d’água.
Sento na borda da piscina e digo ao homem que irei fazer uma coisa muito bacana, bem mais divertida que Proust... Começo então a bater as pernas, criando ondas e uma montoeira de água no rosto dele. Agora sim, há um afogamento...
Me atiro na água com todo o estilo “salva-vidas” e o trago pelo pescoço. A piscina é muito rasa e eu me levanto e fico de pé. O homem, totalmente desorientado, se debate na água, sem conseguir se levantar. Com dificuldade o retiro da piscina.
O homem está estirado na borda, vomitando água e se debatendo. Me ajeito para o tão esperado boca a boca, puxo uma quantidade grande de ar para os meus pulmões, me preparo para a execução e... quando me aproximo, com todo meu empenho de guardiã de piscina, vejo uma situação altamente inesperada. Uma enorme meleca presa ao nariz, escorrendo pelas bochechas do homem. Hesito. Encho os pulmões novamente, e... não há possibilidade... o homem ainda parece não respirar direito... mas hoje, boca a boca, não vai rolar... sopro de longe e abano com as mãos...

Leu?
Assista a seguir, filme de trecho do capítulo


3 comentários:

  1. Ôba, tô adorando essa blognovela!!
    Parabéns à Alexandra Garnier e tbm à atriz e ao diretor dos filminhos...
    JD

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  2. Gente!!! Que imaginação! Não páro de rir.
    Parabéns também a toda equipe. O filme está muito bom.
    Um abraço,
    Marcia

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  3. Que legal... tava procurando outra coisa e vim parar aqui. Adorei a blognovela. Parabéns Alexandra!

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